Você pode ir pro céu se cometer suicídio?
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Você pode ir pro céu se cometer suicídio?

O que a Bíblia diz sobre suicício? O que a Igreja Católica diz sobre isso? O suicídio é visto como pecado? Descubra as respostas aqui.

minutos de leitura | Bernhard Meuser

Definição

Suicídio / Matar-se

Suicídio (do Latin sui = auto e caedere = matar) é comumente entendido como a ação intencional de tirar a própria vida. Apesar de o Tribunal Europeu de Justiça aceitar o homicídio de si mesmo como um direito humano, a Igreja Católica enxerga isso como uma contradição fundamental das leis de Deus, que é o único Senhor sobre a vida e a morte.

O que diz a Bíblia?

No Antigo Testamento, o sangue significa a santidade e a inviolabilidade da vida humana. Derramar o próprio sangue, ou o de alguém, viola a propriedade de Deus: “Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao homem (que matar) o seu irmão, pedirei conta da alma do homem. Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem” (Gn 9, 5-6). O 5º Mandamento também deixa claro que somente Deus é o Senhor sobre a vida e a morte: “Não matarás” (Ex 20, 13). Esse mandamento inclui: “Homicídio e a cumplicidade no assassinato. Implícitos estão os crimes de guerra. Implícita está a interrupção voluntária da gravidez (aborto) de um ser humano, desde a sua concepção. Implícito está o suicídio, a automutilação e a autodestruição. Implícita está a eutanásia, ou seja, matar pessoas portadoras de deficiência, doentes e moribundos” (YOUCAT 379). A Igreja também sempre considerou o suicídio como uma oposição ao mandamento de Jesus do amor, o qual ressaltou especialmente a importância de amar a si mesmo: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento; e a teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10, 27).

Uma pequena catequese do YOUCAT:

Você pode ir para o céu se você se matar?

Sim, você pode.

Não há muitas mensagens reconfortantes para os parentes de alguém que se matou. Porém, esta é uma. YOUCAT 288 diz: “O ser humano é responsável por tudo o que faz conscientemente e de livre vontade. Ninguém pode ser (totalmente) julgado por algo que fez sob pressão, medo, desconhecimento, influência de drogas ou poder de maus hábitos”. Hoje sabemos que ninguém verdadeiramente comete um suicídio de maneira livre. O psiquiatra Manfred Lütz uma vez escreveu: “É uma doença que leva o paciente à morte. O suicídio é fim mortal de uma depressão – assim como um ataque mortal de asma pode ser o fim de uma doença. Ninguém é culpado por estar doente dessa maneira.”

Já era tempo da Igreja se distanciar de uma decisão que durou por mais de mil e quatrocentos anos. Em 561, o Concelho de Braga (561) proibiu aqueles que cometeram suicídio de receber um funeral formal. Em 860, Papa Nicolau I chamou o suicídio de pecado mortal, e aqueles que o cometeram deviam esperar a condenação eterna. Graças a Deus, a Igreja hoje entende melhor a turbulência da alma humana. Objetivamente, a ninguém é permitido tirar a própria vida, sejam quais forem as circunstâncias. Subjetivamente, é verdade o que o Papa Francisco nunca cansa de ressaltar: “Precisamos muito de duas coisas hoje em dia: misericórdia e misericórdia mais uma vez!”.

Um Lado da Moeda

Um lado da moeda é o 5º Mandamento: “Não matarás”.

Não podemos comprometer esse mandamento de forma alguma. YOUCAT 379 expõe sobre esse mandamento: “Homicídio e a cumplicidade no assassinato. Implícitos estão os crimes de guerra. Implícita está a interrupção voluntária da gravidez (aborto) de um ser humano, desde a sua concepção. Implícito está o suicídio, a automutilação e a autodestruição. Implícita está a eutanásia, ou seja, matar pessoas portadoras de deficiência, doentes e moribundos”. Hoje, muitos acreditam que devíamos reescrever o Catecismo. Mais e mais nações permitem o tipo de suicídio da eutanásia (homicídio de uma pessoa em sofrimento por sua própria vontade). Se você perguntasse a alguém: “Não é um direito fundamental de cada ser humano ser soberano sobre a própria vida?” a maioria certamente concordaria. Alguns escritores modernos até veem o suicídio como a expressão última da liberdade humana: “Se eu quiser, eu posso destruir minha própria existência”. Esse tipo de propaganda é verdadeiramente obra do mal, porque isso poderia levar pessoas psicologicamente afetadas a fazerem algo horrível com elas mesmas.

A louca Busca pela Vida

Olhemos, por um momento, para a dramática vida de um alcoólatra. Intuitivamente, sabemos: hoje, é sinal de liberdade se alguém bebe até o ponto de morrer. Muito pelo contrário, nós o consideramos como um sinal de extrema falta de liberdade! E se uma jovem mulher se machuca, cortando a si mesma, não podemos dizer realmente que esta é uma expressão de sua liberdade. Todos irão dizer: “Como chegou a este ponto? Qual miserável ela deve ser, se destruindo assim? Como podemos salvá-la dela mesma?”.

Alguém está desesperadamente procurando por vida e, fazendo isso, se machucando. Como você pode explicar esse fato? Bem no fundo, temos um desejo insaciável de felicidade e vida. Rejeitar a procura da felicidade é algo que você simplesmente não consegue fazer. O filósofo Robert Spaemann uma vez disse que não podemos sequer desejar “não desejar o desejar”. É assim que a vida procura viver profundamente dentro de nós. Às vezes, as pessoas buscam viciosamente a vida e arriscam tudo, apenas para saciar sua sede insaciável. Mesmo alguém que quer se jogar de uma ponte espera encontrar “felicidade” nesse ato.

Há um amor que permanece quando nós não nos amamos mais

Seres humanos estão radicalmente procurando por felicidade. Mas Deus é ainda mais radical. “O Senhor nos ama mais do que nós mesmos nos amamos”, Santa Teresa d’Ávila disse uma vez. O interesse de Deus em mim é bilhões de vezes mais profundo do que meu próprio interesse em mim mesmo. Eu poderia me jogar fora. Deus nunca poderia fazer o mesmo. No Livro de Isaías, Deus diz: “Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu.” (Is 43, 1). E ainda mais, Ele diz: “Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti” (Is 43, 4). Porque não estamos seguros com nós mesmos, Deus deixa claro quais são os direitos de propriedade. Ele deixa claro que Ele nos ama ainda mais profundamente e cuida de nós, nos protegendo de nós mesmos, de uma forma que nunca poderíamos fazer sozinhos. YOUCAT 383 diz: “Só Deus é o Senhor da vida e da morte. Nem sequer a ‘minha’ vida me pertence.”

Devemos também estar atentos a esse fato: Deus não nos dá o dom da vida como alguém que emprestaria uma Ferrari a um aluno de autoescola, apenas para procurar arranhões depois. Ele realmente nos presenteia. Somos livres para fazer com ela o que quisermos. Mas realmente destruiríamos este dom incrível, depois de reconhecê-lo como um verdadeiro sinal do Seu amor?

Nada protege melhor uma pessoa tentada pelo suicídio do que esta certeza: Existe alguém que me ama, que precisa de mim e para quem eu tenho grande significado. E talvez possamos achar Deus num poema de Berthold Brecht: “Aquele que me ama disse-me que precisa de mim. Por isso, cuido de mim, veja como ando e tenho medo de cada gota de chuva, com receio de morrer.”